POR QUÊ A PSICOTERAPIA?
Quando se fala em saúde, geralmente de imediato pensa-se em saúde física. Ao refletir sobre saúde, porém, é muito importante que se considere a saúde emocional. Saúde da mente, da alma, do coração – ou como se preferir nominar.
Isso naturalmente acontece porque no ocidente separou-se “mente” e “corpo” em determinado momento da história, e houve, portanto, um abandono do corpo, e uma desvalorização dos aspectos emocionais, sensoriais e intuitivos, passando a ser mais importante o trabalho racional, do previsível, e do controle sobre as coisas e a natureza.
Ao observar o ser humano contemporâneo, nota-se o comportamento pautado sobretudo no individualismo, no consumismo, no imediatismo, e na busca insaciável pelo poder. De modo geral, nos deparamos com sujeitos solitários, que vivem sob ações instantâneas, tornando superficiais, inseguras e fragilizadas suas relações – sejam elas consigo mesmos ou com o outro.
Ainda faz-se importante refletir acerca dos elevados índices de Depressão, Transtornos de Ansiedade, Dependência Química, Fobias, dentre outros quadros clínicos mais graves e também de doenças físicas, cada vez mais comuns em nossa sociedade.
Perceber o sofrimento do ser humano no nosso tempo me leva instantaneamente a pensar sobre a necessidade de um lugar de amparo.
Muitas vezes, as pessoas recorrem à ciência médica para tentar compreender o que acontece no seu corpo adoecido, e geralmente encontram respostas somente vinculadas ao tratamento dos sintomas físicos.
Com um olhar aprofundado, todavia, é possível observar que as queixas abrem espaço a considerar o adoecimento orgânico como também a expressão de afetos não elaborados psiquicamente, e, portanto, de conteúdos emocionais reprimidos que acabam somatizados.
Reich foi um dos pioneiros no ocidente a sugerir o resgate do corpo em análise, valorizando sua integração com a mente. Comprovando que a psique está registrada no corpo, ao trabalhar com ele nos conectamos diretamente com memórias que trazem lembranças e sensações muitas vezes esquecidas e que nos causam angústias.
A Psicoterapia é uma grande alternativa para lidar com estas dores já instauradas, e mesmo que ainda não se as tenha percebido como dores, pode abrir espaço para o autoconhecimento em caráter de prevenção.
A dificuldade em pedir ajuda, entretanto, é algo que tenho notado ser comum. Talvez por medo, por vergonha, por orgulho, e/ou porque acredita-se que o que possa levar a este sofrimento é banal.
Mas é de extrema importância considerar que, de qualquer maneira, ao negar esta necessidade de ajuda, acaba-se por tropeçar nas mesmas questões mais adiante – os sintomas físicos retornam, e também os mesmos medos e dificuldade de agir diante de situações que repetem um mesmo padrão. Por trás da angústia aparentemente “boba”, está uma questão extremamente profunda, e não entrar em contato faz com que se depare com ela novamente na sequência de maneira cada vez mais rígida.
Como falado anteriormente, ainda hoje, muitas pessoas fazem a associação da Psicoterapia com o tratamento de transtornos mentais, ou seja, aquela é vista como necessária somente em casos relacionados ao considerado socialmente como “loucura”.
Infelizmente, ainda fala-se mais em doença que em saúde, e pouco em prevenção e cuidado.
A ajuda é buscada geralmente quando já há um quadro clínico instaurado e dor crônica – seja emocional ou física. O espaço da psicoterapia, quando considerado, geralmente não é vislumbrado como lugar de acolhimento, cuidado e desenvolvimento emocional, que possa fazer parte hoje e sempre da vida das pessoas.
Também é possível notar, inclusive pela necessidade do imediatismo e de resultados concretos de nosso tempo, a curiosidade e ansiedade acerca do término do processo psicoterapêutico – também na busca de “cura emocional”.
A Psicanálise foi consolidada inicialmente através da medicina ocidental – já se utilizou por um tempo inclusive o termo “cura da neurose”. Como já comentado anteriormente, percebeu-se depois, entretanto, que os sintomas aparecem como expressões de um conflito inconsciente, e que não ocorreram no passado uma única vez. São manifestações recorrentes durante toda a vida, que formam padrões, e inclusive também durante o tratamento.
Com o tempo, o próprio conceito de cura dentro da noção médica e psicanalítica veio a se tornar uma questão, uma vez que o objetivo do tratamento em psicoterapia não é eliminar os sintomas, mas então modificar em profundidade toda a estrutura psíquica cujo funcionamento origina e mantém aqueles sintomas.
É importante também ressaltar que os sintomas existem como meios que o corpo e a subjetividade encontram para defenderem do que um dia foi ameaça externa, sofrimento. Esta autorregulação da energia é natural e necessária para que possa-se continuar sobrevivendo. Tentar eliminar os sintomas bruscamente, além de não modificar a estrutura base, pode-se alterar a psicodinâmica de modo a quebrar defesas ainda necessárias naquele momento.
Acredito que o processo psicoterapêutico profundo é de longo prazo, e também requer desejo de mudança. É parte do desenvolvimento natural que a pessoa vá se dando conta das suas próprias questões ao longo do tempo, bem como de sua caminhada pessoal e particular. O processo em psicoterapia só acontece com a participação ativa do interessado, sendo o psicoterapeuta alguém que irá facilitar a caminhada do sujeito estando junto com ele, mas não realizar nenhuma mudança por ele.
Sem dúvida, olhar para si mesmo é o exercício mais difícil de todos. O medo e a angústia são naturais, pois aparecem no instante em que se faz contato com aquilo que há de mais sombrio e recalcado, aqueles afetos com os quais não queremos nos deparar, e que estão ameaçando aparecer.
Mas é justamente ao entrar em contato com estes conteúdos ora inconscientes, que estavam submetidos à pressão das defesas do Ego, que irá se abrir escuta para esta dor. Através do processo psicoterapêutico, irá se buscar na memória não só a lembrança de eventos traumáticos, mas sua vivência.
Uma vez vivenciadas, conscientizadas e desidentificadas, passa-se a se ter outro olhar sobre este este conteúdo emocional, que passa a ser então objeto. Este passa então a não fazer mais o papel do sujeito na vida daquela pessoa, e não mais influenciar nas atitudes e comportamento.
Lowen (1982) afirma que o objetivo da psicoterapia “é ajudar o indivíduo a retomar sua natureza primária que se constitui na sua condição de ser livre, seu estado de ser gracioso e sua qualidade de ser belo. […] A natureza primária de um ser humano é ser aberto à vida e ao amor. Estar resguardado, encouraçado, descrente e fechado vem a ser a segunda natureza da nossa cultura. Essa é a forma que adotamos para nos proteger de sofrimentos, mas quando tais atitudes tornam-se caractereológicas ou estruturais em nossa personalidade, passam a constituir-se em uma dor ainda mais séria, provocando uma mutilação ainda mais grave que aquela sofrida originalmente”.
Este caminho do “olhar para si” e nossos afetos é, portanto, o que permite desidentificar-se deles, para então acolhê-los e integrá-los. Este caminho do autoconhecimento e da consciência é o considerado, tanto pela ciência como pela espiritualidade, o que pode nos levar em direção à saúde integral, abrindo assim o coração para a vida e para o amor.
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